Fatos de TV: Rede Manchete - do céu ao inferno
Muita gente se lembra da Rede Manchete de Televisão, por causa dos tokusatsus, como Jaspion e Changeman, da novela Pantanal e do anime Cavaleiros do Zodíaco. Mas, o que ninguém se lembra é como a "TV de primeira classe" foi do céu ao inferno, durante 16 anos.
Pra começar, vamos ao início. Ou melhor, do fim da pioneira Rede Tupi de Televisão. Nós últimos anos, ela enfrentou diversas dificildades, como má administração, salários atrasados, programação nas coxas e problemas com a receita Federal.
Foi então que João Figueiredo, o último militar presidente do Brasil, cancelou as sete concessões da Rede. Em 1981, o governo deu a metade para Sílvio Santos para criar o SBT. E a outra metade pro empresário Adolpho Bloch, que não estava tão à vontade de criar uma Rede de TV. Mas foi convencido por seu herdeiro e sobrinho Pedro Jack Kapeller, o Jaquito.
No dia 5 de Junho de 1983, ocorreu a inauguração da Rede Manchete de Televisão. Seu Adolpho deu seu discurso de inauguração, mas a transmissão estreou seu áudio.
O objetivo era fazer uma Televisão de qualidade, com uma programação de alto nível, no melhor estilo TV a cabo. Programas, jornais, coberturas esportivas, desfiles de Carnaval foram os destaques da emissora.
Mas, a Manchete foi lembrada pela sua programação infantil. Programas como Clube da Criança são marcantes até hoje. Passaram apresentadoras como Xuxa e Angélica. Mas, tinham destacado os famosos Tokusatsus e a série de anime, que virou fenômeno: Os Cavaleiros do Zodíaco. De lá pra cá, outros animes também pegaram carona: Shurato, Sailor Moon, Samurai Warriors e Yu Yu Hakusho.
Pra competir com a Globo, a emissora investiu pesado na dramatugia. Novelas como Dona Beija, Kananga do Japão, Corpo Santo e Xica da Silva tiveram ótimos resultados. Porém, o seu maior trunfo foi Pantanal, de Benedito Ruy Barbosa. A novela foi a pedra no sapato da Globo, que no início rejeitou o pedido de autor. Mas, Bloch apostou todas as suas fichas e colocou a Manchete em primeiro lugar de audiência.
Como nem tudo são flores, a rede sofreu com o alto investimento da sua novela. Tentou alavancar com produções como Ana Raio e Zé Trovão e Amazônia. Por causa disso, a emissora quebrou as pernas. Para sair do atoleiro, Bloch implorou para encontrar um sócio. Hamilton Lucas de Oliveira foi um deles, ao comprar 49% das ações da Rede Manchete e se comprometer a pagar os salários atrasados dos funcionários, que faziam de tudo para chamar a atenção, desde invasão de torre de transmissão até greves.
Vendo que a coisa tava preta, Bloch reassume o controle, pedindo na justiça que o dono da IBF saia da sociedade. No dia 19 de novembro de 1995, Adolpho Bloch morre. Jaquito assume as empresas do seu tio. Mas era o começo do fim. O ponto culminante foi em 1998, quando foi produzido Brida, a última novela da Manchete. Com alto investimento, Brida foi um fracasso e terminou, assim que o elenco entrou em greve.
Depois disso, foram muitas tentativas frustradas para a Manchete se reerguer. Só havia uma saída: arrumar um comprador. E então surgiram Almicare Dallevo e Marcelo de Carvalho, que compraram a Rede Manchete para virar a Rede TV!. No dia 16 de maio de 1999, a Manchete, que foi, um dia, a TV de primeira, apagou sua luz.
Atualmente, pouco se falou sobre o que aconteceu com o acervo histórico da Rede. Problemas de manutenção, má conservação de fitas, desestruturação, lacração do setor... Ninguém sabe. O que se teve de notícia é que vários conteúdos foram exibidos nas emissoras, como SBT e Band, que exibiram novelas como Xica da Silva, Mandacarú, Pantanal, Ana Raio e Zé Trovão e Dona Beija.
Vamos esclarecer: a parte do acervo que foi produzido de 1996 até o fim da Manchete pertence à Bloch Som & Imagem, de propriedade do Jaquito. Parte do acervo da TV Manchete São Paulo, foi comprado pela TV Cultura, para restauração e digitalização de material, em conjunto com a Cinemateca Brasileira.
Recentemente, uma pessoa comprou a maior parte do acervo histórico, que data de 1983 até 1996, mais a logomarca da Manchete, por uma bagatela de R$ 500 mil. Algumas pessoas especulam que o possível comprador é, ninguém menos do que, Luciano Hang, o "velho da Havan", que sempre demonstrou interesse em investir em um canal de TV.
Seja quem comprou, terá uma missão difícil: restaurar os históricos programas e produções da emissora, sem falar que tem que pedir autorização de direitos autorais e de imagem.
Os fãs da Rede estão esperançosos por novidades. Talvez um "canal Viva da Manchete". Aguardemos...
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