Um momento de reflexão sobre a TV de hoje, segundo Guilherme Arantes

"Me perguntam porque evito fazer televisão. É que tenho percebido que minha imagem pode trazer danos à audiência. E que a "audiência" da TV pode trazer danos para mim. 

Sei que a TV foi maravilhosa para nossas gerações, especialmente a minha. Tenho total reconhecimento. Amo a TV. Amei existir e fazer parte dela. Mas era outra TV. Outro jeito de se fazer. 

A gente cantava, e pronto. Não tinham os componentes e as fórmulas que vingaram nos tempos atuais. Ficou bem complicado agora, com interatividade e o voyerismo invasivo, científico, dos talk-shows... E sei que os programas das TVs vivem na corda-bamba, lutando desesperadamente por audiência. Muito da TV hoje, se constróis em função do que vem e do que causa nas Redes Sociais. E isso é Orwelliano, diabólico. 

Não quero constanger o público, também, já que hoje em dia as pessoas são todas muito bonitas nas redes sociais, nas mídias. Esta é a época de Ouro da humanidade, em que os seres humanos são todos simplesmente maravilhosos e todos muito virtuosos, com seus milhões de seguidores. Todo mundo faz a sua lição de casa, bonitinhos, com seus sorrisos e mensagens agregadoras, ou estudadamente "chocantes", provocativas. Vale tudo desde que sejam de alguma forma eficiente para angariar seguidores. É a Nova Verdade! 

Diga-me quantos te seguem, e te direi quem És. 

Sinto um constrangimento em existir, ainda. Sei que já passou o tempo de eu estar enterrado num passado de lembranças, e não incomodar mais. 

Só que eu, Guilherme Arantes, insisto em não morreu (seria o ideal), e estou nascendo hoje para o futuro e insisto em dizer pra mim mesmo: eu existo. Dane-se o incomodo que causar. 

Anos atrás, fui fazer o Fausto Silva e a Anne Lottermann me perguntou se eu sentia saudades da cabeleira, da minha juventude. Sei que foi uma pergunta inocente e burrinha, coitadinha, porque eu lhe respondi na lata. Fiquei surpreso com a pergunta "na lata". As pessoas na TV têm que ser lindas. Isso é inquestionável. 

Respondi que eu não sinto saudades porque o meu conteúdo cerebral de hoje, o meu carisma até para responder... não dá para comparar com o conteúdo "ralinho", o carisma fraquinho que eu tinha no tempo dos cabelões, que aliás, hoje data de mais de 40 anos, a provável idade dela. 

Não quero mais televisão porque quando é para ser entrevistado, a pergunta já vem pautada para "causar", e as falas na TV são sempre tóxicas, trazem aborrecimentos e perdas pessoais. Tenho visto colegas entrarem nessa roubada de "debates", de temas, de "pautas", cujo único propósito é colocar o artista fente a frente com o paredão de fuzilamento da polarização, até aí, vai quem quer.

Aí, quando é para cantar, aí as produções querem os "hits" mais comportadinhos e digestivos, que garantam a audiência através dos "grandes Sucessos", que não tragam questionamento novo algum. 

É um tempo muito difícil de estar vivo. Muito fácil para se estar morto." (Guilherme Arantes)

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